As Cicatrizes da Guerra no Espaço Fronteiriço Português (1250-1450) corresponde a uma viagem que o historiador militar não tem por hábito empreender, mas que se torna cada vez mais necessária. A história militar já não se resume hoje à descrição e interpretação estratégica e táctica dos grandes combates ou à análise do armamento e das fortificações. Também é preciso tomar consciência dos efeitos da guerra na vida dos indivíduos (combatentes ou não) e das colectividades em que estes se inseriam. É disso que este livrinho fala: da destruição de casas, de terras e de equipamentos produtivos; do roubo de bens; da violência e dos abusos perpetrados pelos ‘senhores da guerra’ sobre as populações indefesas; do abandono de profissões; da desorganização da vida pública provocada pela repetição das campanhas militares; em suma, do ‘rasto da guerra’ e das profundas alterações que esta provocava na paisagem (humana e económica) do Portugal medieval, em especial nas regiões de fronteira, de longe as mais afectadas. A guerra vista por dentro, a evidência nua e crua do seu lado mais lunar e, simultaneamente, mais perene.